domingo, 20 de março de 2016

Sentei no banquinho do meu quarto....


"Sentei no banquinho do meu quarto que fica de frente ao espelho da parede e comecei a olhar cada canto de mim. Vi que meus olhos eram fundos, e eu sabia o porque de cada dedo fino. Eu me entendia melhor do que qualquer outra espécie do planeta. Melhor do que minha mãe, meu pai, o professor de filosofia e a psicóloga do potinho. Eu sabia porque cada lágrima escorria. O motivo poderia ser o mais ridículo da face da terra, mas aquilo me doía, e ninguém tiraria aquilo de mim, quanto menos entenderia. Mas uma coisa eu nunca perdi no meio de tanta lágrima: o brilho afiliado dos meus olhos. É como se fosse uma lanterninha acesa pra que possam ver que ainda tem alguém aqui dentro, alguém que pode muito bem gritar quando não suportar, que pode sorrir feito louca porque o passarinho resolveu brincar na poça de água, ou simplesmente, que pode atravessar a rua sem olhar. Alguém que ama e que suporta todo amor dentro de si. E eu tinha todo o amor do mundo em mim. E se eu podia amar alguém, eu podia muito bem me amar também. Aceitar cada defeito como se fosse a mais fascinante qualidade. Porque se eu não fizer isso, quem fará por mim? "
Chicago, 1992

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